I SD Cie 8º e 9º 2023

 

MATERIAL PARA A SEQUÊNCIA DIDÁTICA DIAGNÓSTICA - CIÊNCIAS 2023

Tema Inter curricular: Valores em pauta: aprendizagens significativas e inovadoras em sala de aula

Subtema: Ciência benevolente ou malevolente?

Ano: 8º e 9º anos                      Período: 02 a 17/03                    Nº de Aulas: 08 aulas

ATENÇÃO PROFESSOR!!!

Estamos iniciando um ano letivo e como todo início de ano é necessário considerar a avaliação diagnóstica em busca de compreender e identificar os déficits de aprendizagem, dificuldades na leitura, escrita e interpretação. Com essa avaliação, é possível conhecer mais sobre o histórico educacional dos estudantes, com detalhes como: O que o aluno sabe; O que o aluno deveria saber, mas não sabe e as expectativas do estudante em relação aos objetos de conhecimento. Tal diagnóstico é importante para que os professores possam melhorar os processos de ensino e aprendizagem durante o período letivo para uma turma ou estudante específico. Outro fator significativo é que professores que trabalham outros componentes curriculares, exceto Língua Portuguesa, não veem a si próprios como alfabetizadores. Ou seja, estratégias e habilidades para fazer sentido a partir do texto são normalmente visto como o trabalho de professor de português. Os textos nas aulas de ciências são fundamentais, inclusive para uma alfabetização científica.

Objetivos e propósitos interpretativos para os quais os alunos se envolvem com as ciências, em comparação com textos literários, são bastante diferentes e requerem diferentes práticas disciplinares e são fundamentado em diferentes epistemologias, ideias centrais, gêneros e discurso de criação de sentido práticas. 

Os textos ricos e variados, enfocam a alfabetização como uma ferramenta de aprendizagem, e instrução fornece aos alunos oportunidades significativas para desenvolver seu conteúdo científico. Mostra aos alunos como aprender ciências por meio da leitura e como aprender a alfabetizar por meio da Ciência.

 

Ler e escrever em ciências exigem que os alunos integrem uma série de conhecimentos científicos e a formação de um vocabulário específico.

 

Isso é muito importante, uma vez que a compreensão da leitura está intrinsecamente ligada ao conhecimento de vocabulário. Também se relaciona com o conceito de conhecimento prévio para que mantenha o novo aprendizado; se os alunos têm uma compreensão segura do vocabulário ao ler o texto, eles acharão mais fácil sintetizar os conceitos que se relacionam com o vocabulário conforme os encontram no texto. É preciso mais do que nunca uma dedicação especial a esse momento de diagnóstico, onde os dados colhidos durante esse processo precisam ser bem específicos e detalhados. É necessário calma e priorizar a escuta de todos os alunos, para colher o máximo de informações possíveis.

Outro fator relevante nesse primeiro contato é acolher esse aluno e atender requisitos para desenvolver as Competências Socioemocionais.

·         As Competências Socioemocionais são habilidades desenvolvidas ao longo da vida e do processo de aprendizagem e que se conectam a capacidade de cada indivíduo lidar com suas próprias emoções, desenvolver autoconhecimento, se relacionar com o outro, ser capaz de colaborar, mediar conflitos e solucionar problemas.

 

 

COMPETÊNCIAS SOCIOEMOCIONAIS:

  • Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva;
  • Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital -, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.
  •  Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.
  • Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
  • Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

OBJETIVOS:

·         Compreender como a Ciência colabora na formação social de cada indivíduo.

·         Identificar as realidades dos estudantes que estão inseridos nesse processo de aprendizagem;

·         Apurar a presença ou ausência das habilidades dos alunos;

·         Refletir sobre e reconhecer as causas, dificuldades e limitações de aprendizagem de cada aluno.

·         Trabalhar a noção da diversidade e valorizar as características individuais de cada um;

·         Valorizar a importância do coletivo e das relações com os amigos;

·         Investigar transformações que geram mudanças na composição da matéria e identificar que tais mudanças são transformações químicas;

·         Compreender o conceito de fenômeno, matéria, objeto e sistema; Diferenciar fenômenos físicos de químicos.

 

ETAPAS DA AULA / METODOLOGIA

 

AULA 01

Tema da Aula: Acolhida e Apresentações

Etapa 01: Apresentação dos Alunos e Professor (10 min)

Dinâmica: Tempestade de ideias (brainstorming)

Tempestade de ideias ou brainstorming é uma técnica usada em dinâmicas de grupo, sua principal característica é explorar as habilidades, potencialidades e criatividade de uma pessoa, direcionado ao serviço de acordo com o interesse.

No ensino escolar essa técnica pode ser usada como estratégia. Em cada início de assunto pode-se colocar em prática. A execução ocorre a partir de questionamentos realizados no início de cada tema, nos inúmeros capítulos dos livros. O conjunto de perguntas deve ser respondido pelos alunos de forma oral, baseados nas experiências e nos conhecimentos adquiridos ao longo da vida. Tudo que eles forem expressando deve ser anotado no quadro, pois cada palavra registrada será usada como ponto de partida para o conhecimento do conteúdo que se pretende estudar.

Durante as anotações todas as frases e palavras devem ser consideradas, o ideal é que todos participem e exponham sua opinião. Logo após o professor analisa cada opinião sem constranger nenhum aluno nos comentários, mesmo que não tenha nenhuma ligação o que foi expresso.

Esse tipo de dinâmica é importante, pois o aluno expõe seus conhecimentos adquiridos ao longo de sua vida. Além de fazer com que o aluno se posicione diante de um determinado tema, respeite as ideias do colega e também exercite a prática da participação no cotidiano das aulas.

 

O objetivo dessa dinâmica é desenvolver a escuta e o respeito entre os participantes.

É comum que o primeiro dia de aula seja ocupado pela apresentação de professores e alunos. Entretanto, essa apresentação pode ser feita de formas diferentes.

Para além das informações triviais como o nome e a disciplina que leciona, o professor pode relacionar com gostos e características mais pessoais (músicas, filmes, livros, viagens, memórias, etc.) e pedir para que os alunos façam o mesmo.

Feita as apresentações lança outra proposta na qual todos devem dar suas ideias sobre o tema proposto. Por exemplo, “Na sala de aula deve ter ........... para eu (aluno) conseguir ter aprendizagem de qualidade?

Peça que completem a frase e escreva no caderno até o momento de ouvi-los, durante a socialização o professor deverá anotar no quadro, quantas vezes a palavra aparecer.

O professor deve garantir que todos tenham o direito de expressar suas ideias e estimular a cooperação e a combinação entre ideias. Todas as ideias devem ser aceitas, mesmo que pareçam incoerentes ou impraticáveis.

As críticas podem fazer com que alguns colegas sintam-se constrangidos e optem por não participar da dinâmica.

Para a realização da tarefa deve-se dispor os estudantes em roda, de forma que todos possam se ver. Cada estudante deve dar sua ideia. Mesmo os mais tímidos devem ter seu momento de expor suas propostas.

No primeiro momento, o professor deve registrar as ideias, sem crítica ou análise. Após a rodada de exposição, o grupo revê a lista de ideias e escolhe quais são as mais concretizáveis. Tire uma foto depois de concluído para compor um cartaz que deverá ficar afixado na parede, com a identificação do Componente Curricular.

Etapa 02: Apresentação do Componente Curricular (20 min)

Indagar os alunos o que acham do componente curricular, quais as expectativas para aprender Ciências (o que aprender, como aprender, pra quê aprender), nesse momento, poderá utilizar 3 caixinhas para acolher cada resposta, assim os alunos colocarão nas caixinhas com identificação. Depois que todos escreveram, leia cada contribuição. Somente após ter lido todas as respostas, ofereça as informações para eles sobre a importância do componente, como se você professor, fosse um vendedor.

·         Momento para identificar a ortografia dos alunos.

·         Já de posse da planilha diagnostica poderá registrar essas observações.

Etapa 03: O efeito do conhecimento de Ciências em mim (15 min)

Certamente os alunos falarão na etapa anterior que espera ter experimentos durante as aulas, então, faça a primeira experiência relacionando a abertura dos mesmos ao ensino de Ciências. Pegue um palito de fosforo e acenda, mantenha-o em pé, peça que observem o que acontece com o fogo (durabilidade do fogo, tamanho da chama e facilidade em se manter), em seguida acenda outro palito, porém dessa vez de forma inclinada, faça os mesmos questionamentos do palito anterior, acolha as respostas, em seguida indague-os:

·         Faça de conta que o fogo representa o conhecimento. Em qual palito o conhecimento foi maior?

·         Se você fosse o palito de fósforo qual gostaria de ser?

·         Quanto você está aberto ao ensino de Ciências?

Sucesso e que sua chama brilhe muito!

As reações podem variar bastante de um aluno para outro, mas terá bons resultados com essa dinâmica.

Etapa 04: Aprendendo Algo Mais (05 min)

Pergunte aos alunos se tiveram a curiosidade em saber por que os palitos de fósforo pegam fogo, então, peça que em casa pesquisem o que faz o palito de fósforo incendiar com facilidade. Registre no caderno com o título “A química por trás de um palito de fósforo em chamas” para apresentar na próxima aula.

AULA 02

Tema: Experiências Vividas

Etapa 05: Socializando o Conhecimento através da pesquisa (10 min)

Abrir espaço para os alunos apresentarem as pesquisas e tirarem as dúvidas a respeito. (Momento para observar o nível de compromisso da turma com as atividades extraclasse).

Etapa 06: Relatos de Experiências (20 min)

Aproveite a etapa para falar com os alunos sobre o que é uma experiência, anote na lousa os significados: substantivo feminino Conhecimento ou aprendizado obtido através da prática ou da vivência: experiência de vida; experiência de trabalho. Teste feito de modo experimental; prova, tentativa, exemplo: neste trabalho, seu contrato é de experiência. Explique sobre isso, peça que anotem nos cadernos, em seguida, faça uma roda de conversa para que eles exponham alguma experiência que tenha vivido.

Etapa 07: Introdução a Leitura (20min)

Ainda em roda de conversa, inicie com a turma a introdução a leitura e interpretação de  textos para sondar estas habilidades. Inicie com a atividade antes da leitura.

1.      Pergunte se já ouviram falar no Sitio do Pica Pau Amarelo, se sabem quem é o autor, diga que por lá também acontecia muitas experiências, tinha para todos os gostos. Descreva um pouco sobre esse local, personagens, etc. Leia sobre o autor.

2.      Pergunte aos alunos se concordam com a frase a seguir: “ Tudo é Ciência, até no menor ato recorre-se à Ciência, seja quando cozinhamos, assamos um frango. Recorre–se também a uma porção da Ciência até mesmo sem saber, pois para preparar o frango e chegar a assá-lo, empregam-se inúmeros conhecimentos que foram transmitidos por nossos ancestrais. Cada coisa de que se tem ciência foi transmitido por alguém da família, o que demonstra o quanto o senso comum também está impregnado de conceitos científicos”.

3.      Quais conhecimentos científicos devemos ter quando cozinhamos? E quando fazemos uma simples salada crua?

4.      Vocês concordam que até durante nossa higiene pessoal devemos ter conhecimentos científicos? Cite alguns exemplos!

Acolha as respostas e convide-os a ouvirem com atenção a história de Monteiro Lobato que mostra no capítulo I, Comichões Científicas, da obra Serões de Dona Benta (Física e Astronomia) para eles raciocinarem e identificarem como os personagens vividos trazem noções a respeito das ciências.

AULA 03

Tema: Uma história de Lobato para a Ciência

Etapa 8: Motivação para Escuta dos Alunos (10 min)

Motivação para a escuta da leitura:

Lance os questionamentos abaixo para aguçar o interesse dos alunos a ouvirem a história.

·         Vocês gostam de ouvir histórias?

·         Em alguns momentos sentem curiosos? Acontece com frequência? Se fosse medir, qual seria seu nível de curiosidade?

·         Ter curiosidade é bom ou ruim? Por que?

·         Querem saber das coisas?

Acolha as respostas e convide os alunos a ouvirem a história de Monteiro Lobato que apresenta uma série de dúvidas causadas pela curiosidade de Pedrinho e Narizinho.

Etapa 9: Contando História (25 min)

Faça a leitura da história para a turma (anime com gestos, movimentos, de forma a tornar o momento bastante interessante).

COMICHÕES CIENTÍFICAS

— Sinto uma comichão no cérebro, disse Pedrinho. Quero saber coisas. Quero saber tudo quanto há no mundo...

— Muito fácil, meu filho, respondeu Dona, Benta. A ciência está nos livros. Basta que os leia.

— Não é assim, vovó, protestou o menino. Em geral os livros de ciência falam como se o leitor já soubesse a matéria de que tratam, de maneira que a gente lê e fica na mesma. Tentei ler uma biologia que a senhora tem na estante, mas desanimei. A ciência de que gosto é a falada, a contada pela senhora, clarinha como água do pote, com explicações de tudo quanto a gente não sabe, pensa que sabe, ou sabe mal-e-mal.

— Outra coisa que não entendo, disse Narizinho, é esse negócio de várias ciências. Se a ciência é o estudo das coisas do mundo, ela devia ser uma só, porque o mundo é um só. Mas vejo física, geologia, química, geometria, biologia — um bandão enorme. Eu queria uma ciência só.

— Essa divisão da Ciência em várias ciências, explicou Dona Benta, os sábios a fizeram para comodidade nossa. Mas quando você toma um objeto qualquer, nele encontra matéria para todas as ciências.

— Mas que é ciência, vovó? — perguntou Narizinho. Eu mesmo falo muito em ciência, mas não sei, bem, bem, bem, o que é.

Nesse momento dê uma pausa na leitura e indague os alunos o que é ciência. Peça que registrem no caderno para comparar com a resposta de D. Benta. É importante escreverem a caneta.

— Ciência é uma coisa muito simples, minha filha. Ciência é tudo quanto sabemos.

— E como sabemos?

— Sabemos graças ao uso da nossa inteligência, que nos faz observar as coisas, ou os fenômenos, como dizem os sábios.

— Então fenômeno é o mesmo que coisa?

Abra outro espaço e peça que registrem o conceito de fenômeno elaborado por eles. Proceda da mesma forma anterior.

— Fenômeno é tudo na natureza. Aquela fumacinha lá longe, que sobe para o céu, é um fenômeno. A chuva que cai é um fenômeno. O som da minha voz é um fenômeno. Fenômeno é tudo que acontece. E foi observando os fenômenos da natureza que o homem criou as ciências. No começo o homem era um pobre bípede que valia tanto como os quadrúpedes de hoje. Vivia como todos os animais, nu em pelo, morando só nos lugares de bom clima, onde houvesse abundância de frutas silvestres e caça. Um animal como outro qualquer. Mas a inteligência que foi nascendo nele fez que começasse a observar os fenômenos da natureza e a tirar conclusões. O homem teve a ideia de plantar, e com isso criou a agricultura, teve a ideia de inventar armas, o arco e a flecha, o machado de pedra, o tacape, e com isso aumentou a eficiência dos seus músculos. Um dia descobriu o fogo e o meio de conservá-lo sempre aceso — e disso nasceu um colosso de coisas, entre elas o preparo dos metais. Com o fogo derretia certas rochas e tirava uma coisa preciosa, diferente da pedra — o ferro, o cobre, os metais, em suma. E com esses metais obtinha machados muito melhores que os feitos de pedra.

Também aprendeu a domesticar certos animais, de que se servia para a alimentação ou para ajudá-lo no trabalho. E a inteligência do homem, de tanto observar os fenômenos, foi criando a ciência, que é o modo de compreender os fenômenos, de lidar com eles e produzi-los quando se quer. E o homem tanto fez que chegou ao estado em que se acha hoje...

— Dono da terra, dominador da natureza, rei dos animais.

— Bom, estou percebendo — disse Narizinho.

O que um aprendia, passava aos outros, não era assim?

— Exatamente. Para que haja ciência é necessário que os conhecimentos adquiridos por meio da observação se acumulem, passem de uns para outros e pelo caminho se vá juntando com os novos conhecimentos adquiridos.

Entre esses conhecimentos o maior de todos foi tirar partido de certas forças da natureza a fim de aumentar a força natural dos músculos. Isso deu ao homem eficiência, isto é, capacidade de fazer coisas. Por fim resolveu inventar instrumentos e máquinas, meios mecânicos de aumentar grandemente a força dos músculos — e hoje o homem tem máquinas poderosíssimas, como a locomotiva, o navio, os guindastes, os automóveis, os aviões, tudo. A ciência foi nascendo, e o que chamamos progresso não passa de aplicação da ciência à vida do homem.

— Sinto uma comichão no cérebro — disse Pedrinho. Quero saber coisas. Quero saber tudo quanto há no mundo...

Nesse ponto um passarinho cantou no pomar. Pedrinho pôs-se de ouvido alerta.

— Que passarinho será aquele? — murmurou, falando consigo mesmo. E saiu disparado para ver.

— Ora aí está como se forma a ciência — disse a boa senhora. Se o canto fosse de sabiá, Pedrinho não se incomodaria, porque já conhece o sabiá. Mas como não reconheceu o canto, ficou logo assanhado por saber — e foi correndo ao pomar. A curiosidade diante dum fenômeno que não conhecemos é a mãe da ciência. Logo depois Pedrinho voltou.

Era uma saíra das raras — a segunda que vejo por aqui, disse ele — e Dona Benta continuou a desenvolver o seu tema:

— Muito bem; sua curiosidade, Pedrinho, fez que você adquirisse um conhecimento novo. Ficou sabendo que esse canto é duma saíra rara por aqui. Para chegar a essa conclusão, você teve de observar o fenômeno — de ir ver, porque só com o ouvido não podia identificar o passarinho.

Você neste caso fez o papel do cientista que observa, descobre e fica sabendo. E nós aqui, que não fomos pessoalmente observar, aceitamos esse conhecimento que você adquiriu e também ficamos sabendo que o tal canto é duma saíra rara por aqui. Quando alguém me perguntar: "Que passarinho é esse que está cantando?" Eu responderei, fiada na observação que você fez e nos comunicou: "É uma saíra rara por aqui." Se a ciência ficasse com o homem que a adquire, de bem pouco valor seria, porque desapareceria com esse homem. Mas a ciência se transmite dum homem para outro e assim vai aumentando o patrimônio de conhecimentos da humanidade.

Chegamos hoje a um ponto em que, para a menor coisa, recorremos a muitas ciências sem o saber. A pobre tia Nastácia, quando vai assar um frango, recorre a uma porção de ciências, embora não o perceba. Para pegar o frango, para matá-lo, para depená-lo, para limpá-lo, para recheá-lo, para assá-lo, ela emprega inúmeros conhecimentos científicos, adquiridos no passado e transmitidos de geração em geração.

Pedrinho ficou entusiasmado.

— Nesse caso, vovó, eu sou um verdadeiro sabiozinho, porque sei mil coisas práticas. Sei sem que ninguém me ensinasse...

Engano seu, meu filho. Tudo quanto você sabe foi ensinado sem que você o percebesse. A maior parte das coisas que sabemos nos vem de ver os outros fazerem.

— Isso lá é verdade — confessou o menino. Cada coisa que eu sei veio de alguém lá de casa — sobretudo da mamãe e papai.

A gente quando é criança presta atenção a tudo e imita. Mas eu não sabia que isso era ciência...

— Sim, meu filho, tudo que sabemos constitui ciência, e quando você estudar física, por exemplo, vai verificar que os livros de física apenas explicam teoricamente muita coisa que praticamente sabemos. Por que motivo na mesa, ontem, quando Emília derramou aquele copo d’água, você gritou para tia Nastácia: "Traga um pano?"

Porque é com pano que se enxuga água.

— Perfeitamente. Você sabe de modo prático uma coisa que na Física se chama capilaridade. O pano é feito de algodão, cujas fibras, por causa desse fenômeno da capilaridade, absorvem, chamam para si a água. Quer dizer que você, como toda gente, quando enxuga uma água com um pano, faz uso dum princípio da física, embora não o conheça teoricamente.

Bem, a história não termina por aqui, existem várias curiosidades escritas por Lobato em um livro chamado COMICHÕES CIENTÍFICAS.

Etapa 09: Comparando as ideias (15 min)

Chegou a hora de comparar os conceitos que os alunos criaram sobre Ciência e Fenômenos com o que D. Benta informou, faça uma breve discussão, em seguida copie no quadro os conceitos corretos e peça para os alunos escreverem no caderno.

 

AULA 04

 

Tema: Curiosidades

Etapa 10: Interpretando a história (35 min)

Coloque a interpretação do texto na lousa, peça aos alunos para escreverem no caderno, em seguida monte grupos de estudo, distribua cópias da história para facilitar na resolução da atividade, dê um tempo para a conclusão.

Interpretando o que leu!

1. Com base nos fragmentos do texto exemplifique o que se pede!

a)“Fenômeno é tudo na natureza. Aquela fumacinha lá longe, que sobe para o céu, é um fenômeno. A chuva que cai é um fenômeno. O som da minha voz é um fenômeno. Fenômeno é tudo que acontece”.

Cite um exemplo diferente de fenômeno:

b) “Engano seu, meu filho. Tudo quanto você sabe foi ensinado sem que você o percebesse. A maior parte das coisas que sabemos nos vem de ver os outros fazerem”.

Cite um exemplo de algo que aprendeu em ver os outros fazendo.

2. Buscando as informações no texto através da leitura e pesquisa. Escreva tal qual aparece no texto!

a) O que Pedrinho pensa a respeito de aprender Ciências apenas lendo como sugeriu D. Benta?

b) O que é necessário para que haja Ciência?

c) Qual foi o maior de todos os conhecimentos?

d) Quando enxuga uma água com um pano, faz uso dum princípio da física, chamado capilaridade, segundo o texto qual explicação aparece sobre esse fenômeno?

3) Discuta com o grupo e registre suas conclusões sobre:

“Dono da terra, dominador da natureza, rei dos animais”, disse D. Benta a Pedrinho. E você, o que pensa a esse respeito?

b) D. Benta falou a Pedrinho:

_Você neste caso fez o papel do cientista que observa, descobre e fica sabendo. E nós aqui, que não fomos pessoalmente observar, aceitamos esse conhecimento que você adquiriu e também ficamos sabendo que o tal canto é duma saíra rara por aqui. Quando alguém me perguntar: "Que passarinho é esse que está cantando?" Eu responderei, fiada na observação que você fez e nos comunicou: "É uma saíra rara por aqui."

Você acha confiável nos basear apenas na observação de outra pessoa para concluirmos sobre uma investigação científica ou curiosidade?

4) “Chegamos hoje a um ponto em que, para a menor coisa, recorremos a muitas ciências sem o saber. A pobre tia Nastácia, quando vai assar um frango, recorre a uma porção de ciências, embora não o perceba. Para pegar o frango, para matá-lo, para depená-lo, para limpá-lo, para recheá-lo, para assá-lo, ela emprega inúmeros conhecimentos científicos, adquiridos no passado...” De que maneira Tia Nastácia adquiriu esse conhecimento?

5) Analise o diálogo abaixo e escreva sua conclusão sobre essa conversa!

Professora: Por que Dona Benta chama o homem de estúpido?

Aluno A: Por que ele utiliza as invenções da ciência para o mal.

Professora: E vocês concordam com o que a Dona Benta disse?

Aluno B: Sim, o homem faz as guerras.

Professora: E quais "invenções da ciência" o homem utiliza na guerra?

Aluno B: O avião, as armas, a bomba.

Aluna C: E os cientistas que descobriram a bomba atômica iam usar ela pra quê?

Professora: Os cientistas não descobriram a bomba atômica, as pesquisas que alguns deles estavam realizando acabaram sendo utilizadas para produzir a bomba atômica.

Etapa 11: Socializando as ideias (15 min)

Aproveitar esse momento para apresentar as respostas dos grupos e fazer as correções necessárias, mais um momento significativo para sondar a habilidade de interpretar, organizar as ideias e expressá-las oralmente.

 

AULA 05

 

Tema: Ciência benevolente ou malevolente?

Etapa 12: Levantamento de Conhecimentos prévios (10 min)

Pergunte aos alunos se sabem o que é Ciência benevolente, peça que lancem respostas baseadas no achismo deles. Aproveite para perguntar o que é Ciências malevolente, caso estejam no caminho certo, peça que citem exemplos.

Etapa 13: Questão problematizadora (no caderno) (15 min)

Promova um debate entre os alunos com a reflexão comentada da seguinte frase: “A ciência foi nascendo, e o que chamamos progresso não passa de aplicação da ciência à vida do homem”.

Pergunte se concordam com a frase de D. Benta. O que entenderam dessa frase? Acham importante o progresso? O progresso é sempre para o bem? Quais as consequências do progresso?

Etapa 14: Estudo de Caso (25 min)

Propor aos alunos a análise dos diálogos abaixo para socializar seus pontos de vista. Pergunte com qual dos alunos eles concordam? Se tivesse a oportunidade de contribuir nesse diálogo o que acrescentaria? (utilizar as perguntas em todos os diálogos)

Diálogo I

Professora: Vocês concordam com o que Dona Benta falou, a ciência surgiu das observações?

Aluno 1: Sim, porque a ciência tem a ver com a natureza e a observação da natureza.

Professora: Mas será que hoje em dia a ciência funciona desse jeito? Será que a ciência se desenvolve somente da observação?

Aluno 1: Precisa estudar também.

Aluno 2: Se fosse só observar todo mundo podia descobrir as coisas e ficar milionário.

Professora: Sim, na verdade o cientista antes de observar um fenômeno ele já possui vários conhecimentos sobre ele, ele já estudou muito sobre ele antes.

Diálogo II

Professora: Será que a ciência só tem valor quando tem uma aplicação prática em nossa vida?

Aluno 3: Não, ela tem valor mesmo quando não nos ajuda na vida.

Aluno 4: Mas se ela não ajudar a gente na vida, ela vai servir para quê?

Aluno 3: Eu acho que ela sempre tem valor.

Diálogo III

Professora: E, será que ela sempre ajuda a gente? Ela não pode ser usada para prejudicar o homem?

Aluno 5: Pode sim, a Dona Benta disse que o avião que foi usado na guerra.

Aluno 6: É verdade ... E a professora de Português falou que Santos Dumont se matou por causa disso.

AULA 06

Tema: Fenômenos Físicos e Químicos

Etapa 15: Amarrando as ideias (15 min)

Essa é uma conclusão feita pelo professor com base nas observações dos alunos na etapa anterior.

A partir deste diálogo inicial, deve-se esclarecer aos alunos que a ciência não se desenvolve diretamente das observações, pois, quando o cientista observa um fenômeno, ele já possui conhecimentos anteriores, ou seja, não há observações neutras, mas teoricamente orientadas. Portanto, os cientistas não descobrem as coisas e a ciência não brota diretamente da observação dos fenômenos naturais. Além disso, a ciência se desenvolve por meio de um processo complexo de tentativas e erros, idas e vindas, e não porque os conhecimentos científicos vão apenas se acumulando ao longo do tempo, como afirmou Dona Benta.

Em outro trecho que Dona Benta afirma que "a ciência foi nascendo, e o que chamamos progresso não passa de aplicação da ciência à vida do homem [...] As ciências só têm valor quando nos ajudam na vida – e é para isso que existem" (Lobato, 1973). Este trecho evidencia uma visão utilitarista e de uma ciência benevolente, portanto, de o valor da ciência estar ligado ao benefício que ela traz à humanidade.

As pesquisas básicas são importantes no desenvolvimento do conhecimento produzido pela humanidade e da possibilidade de esse conhecimento, aparentemente não vinculado à vida prática do homem, poder sê-lo um dia. Existem possibilidades de o conhecimento científico ser utilizado para finalidades não tão nobres, como havia explicado Dona Benta.

Agora peça aos alunos que citem exemplos do mau uso da Ciência (levem alguns exemplos para complementarem os citados pelos alunos).

Etapa 16: Levantamento de Conhecimentos Prévios (10min)

Levantar conhecimentos prévios a partir dos questionamentos relacionados:  Quais fatores colaboram para que os fenômenos aconteçam? Os fenômenos se relacionam com a matéria e dessa relação, em alguns casos há liberação de energia. Você sabe dizer o que é matéria? E energia? Identifique em sua sala de aula exemplos de matéria. Localiza em sua sala formas de energia.

Etapa 17: Bate Papo Científico (20min)

Lance a pergunta aos alunos: Você já percebeu que os materiais podem passar por diferentes tipos de transformação?

Orientações: Faça a pergunta do slide aos estudantes (caso não consiga exibir o slide, leve gravuras similares) e peça que eles digam quais tipos de transformação de materiais eles conhecem. Faça a seguinte demonstração: pegue uma folha de papel sulfite e mostre-a aos alunos. Em seguida, amasse a folha e pergunte a eles: O que mudou?. Espera-se que eles respondam que o papel mudou de forma, que ficou amassado. Conduza a conversa de forma a mostrar que o material continua sendo o papel, mas que agora o mesmo encontra-se amassado (desamasse o papel enquanto a discussão acontece). Após isso, coloque o papel dentro de uma forma de alumínio e, com o auxílio de um isqueiro ou um palito de fósforo, queime o papel. Pergunte aos estudantes: E agora? O que aconteceu com o papel?. Direcione a discussão de maneira que eles percebam que houve uma transformação em que a composição do material mudou e que agora não se tem mais o papel como ele existia antes. Caso não seja possível fazer a demonstração em sala, leve os alunos a pensar nessas situações e faça as mesmas perguntas a eles.

Etapa 18: Questão Disparadora (05min)

Como saber se um material passou por alguma transformação?

Orientações: Diga para os alunos pensarem nas transformações que acabaram de ver no papel. Leia, então, a Questão disparadora. Anote no quadro as respostas dos estudantes para esta questão. Devido à demonstração da queima do papel, é esperado que eles digam que ocorrem mudanças de cor, de cheiro. Neste momento, não se preocupe em responder questionamentos ou em corrigir possíveis erros conceituais dos alunos, incentive-os a pensar sobre o que está sendo questionado.

Peça que tragam o material abaixo relacionado, na próxima aula, é importante que o professor também leve para não comprometer o desenvolvimento da atividade.

Palha de aço, clipe de metal, água sanitária e frasco transparente.

 

AULA 07

Tema: Fenômenos Físicos e Químicos

Etapa 19: Mão na Massa (30 min)

Orientações: Descreva todo o procedimento para os alunos, após a realização da prática, enquanto o material está de repouso, faça um ditado com o que está descrito no espaço acima “Agora você fará uma experiência!” Em seguida peça que escreva a conclusão.

Etapa 20: Sistematizando o Conhecimento (20 min)

Orientações: Anote as perguntas abaixo com o título resultados. Peça para que os compartilhem com todos o que verificaram na experiência e como responderam às questões propostas. Pergunte aos alunos: O que vocês notaram de diferente na palha de aço após a transformação?. Eles devem apontar aspectos como mudança de cor, formação de ferrugem. Caso alguns alunos não tenham notado a mudança de cor, leve a eles um frasco contendo a palha de aço oxidada e mostre a diferença entre o material que está lá dentro e uma palha de aço não oxidada. Pergunte a eles: O que aconteceu para que se formasse essa nova cor na palha de aço? Conduza a discussão de maneira a levá-los a identificar que uma nova substância deve ter se formado, mudando a composição da palha de aço. Faça o mesmo em relação ao clipe metálico. Mostre aos estudantes o clipe que você trouxe de casa, que já está em um estado de oxidação mais avançado, o que permite melhor visualização da transformação química (comente sobre o tempo necessário para a ocorrência das transformações, diga que as diferentes transformações acontecem em tempos diferentes).

 

AULA 08

Tema: Fenômenos Físicos e Químicos

Etapa 21: Aprofundando no Tema (15min)

Continuar com o tema apresentando mais informações de forma bem clara para auxiliar os alunos na compreensão, utilize a apostila disponibilizada no grupo de WhatsApp. Momento oportuno para sanar dúvidas levantadas pelos alunos. Peça que mencionem possíveis fenômenos físicos e químicos que tenham presenciado em suas casas.

Etapa 22: Verificação da Aprendizagem(20min)

Registrar na lousa atividade sobre fenômenos Físicos e Químicos disponível por whatsApp, pedir aos alunos para escrever no caderno e responder com base no que foi trabalhado ao longo das aulas.

Etapa 23: Correção e Revisão (10min)

Etapa 24: Sua Curiosidade

Pedir aos alunos que escrevam no pedaço de papel qualquer curiosidade que tenham e colocar na caixinha, o professor deverá tirar 15 minutos de uma aula para trabalhar essas curiosidades.

Uma boa maneira de aguçar o interesse por Ciências é propor espaços e momentos para as perguntas, os questionamentos dos alunos. Podemos -- e devemos -- fazer intervenções pedagógicas que também podem ser em forma de perguntas, que os levarão, se possível em alguns momentos, incentivar à pesquisa, e podemos indicar os caminhos para a construção do conhecimento. São as perguntas, e não necessariamente as respostas, que levam ao conhecimento.

 

Observação: Professor se tiver condições, poderá fazer uso de vídeos para tornar sua aula mais atrativa.

Ao longo da aplicação da sequência, registre as observações de desempenho de cada aluno na ficha de avaliação diagnóstica disponibilizada por WhatsApp.

 

 

INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES AO PROFESSOR

Estratégias de uso de texto na aula de ciências

 

A forma encontrada pelo autor para apresentar a Ciência na maior parte das suas obras infantis parece ser uma resposta a essa inquietação da juventude. Por meio da literatura infantil, ele aproxima Ciência e Arte, por exemplo, e tantos outros componentes. Nas palavras de Lobato: "a inteligência só entra a funcionar com prazer, eficientemente, quando a imaginação lhe serve de guia [...] A arte abrindo caminho à ciência: quando compreenderão os professores que o segredo de tudo está aqui?" (LOBATO, 1956, p. 8).

De acordo com Filipouski (1983), as histórias do Sítio do Picapau Amarelo apresentam dois focos principais: um deles é o ficcional, no qual a fantasia e a realidade se unem à resolução de problemas por meio da atuação dos personagens sobre o seu meio ambiente. No outro, há sempre uma preocupação de caráter formativo e informativo, buscando preencher uma lacuna pedagógica por meio da utilização de conteúdos de diversas áreas do conhecimento. Dentre as diversas áreas do conhecimento presentes nos livros infantis, a Ciência ocupa um papel de destaque. Ao longo das obras, Lobato aborda conteúdos científicos da biologia, da física, da química, da geologia, por exemplo. Além disso, em algumas obras, ele discute a prática científica.

Objetos a serem trabalhados:

·         Visão de ciência e de cientista/ Senso comum

·         Ações humanas no meio ambiente Preservação do meio ambiente

·         Questões éticas - ciência benevolente/ciência para o mal  

Para as abordagens das questões acerca da Natureza da Ciência, foram utilizados trechos selecionados, sobretudo, do primeiro capítulo do livro, intitulado Comichões científicas, uma espécie de "introdução" aos Serões. Neste capítulo, Dona Benta explica sobre a ciência e como ela funciona. De modo geral, a leitura do capítulo evidencia a presença de concepções de ciência de duas naturezas diferentes. Uma delas, presente na maior parte do texto, está associada a uma visão empírico-indutivista, que confere à ciência características consideradas inadequadas de acordo com estudos sobre a natureza da ciência (FERNÁNDEZ et al., 2002; GIL PÉREZ et al., 2001), a saber: que o conhecimento científico nasce diretamente da observação e da experiência "neutras" (sem pressupostos teóricos), e cresce de modo linear e cumulativamente. Alguns trechos trazem, também, a ideia de uma ciência benevolente, benfeitora da humanidade. A outra, presente em outros trechos, confere à ciência características – em parte – opostas às primeiras, uma vez que evidencia uma visão de ciência como conhecimento não cumulativo e de caráter provisório, e questiona, de certa forma, o caráter benevolente da ciência presente nos primeiros trechos.

No trecho que utilizamos para discutir o papel das observações no desenvolvimento científico, Dona Benta ensina aos meninos do sítio: "foi observando os fenômenos da natureza que o homem criou as ciências" (LOBATO, 1973, p. 9-10). E complementa: "para que haja ciência é necessário que os conhecimentos adquiridos por meio da observação se acumulem, passem de uns para os outros e pelo caminho vá se juntando com os novos conhecimentos adquiridos" (LOBATO, 1973, p. 10).

Outro trecho interessante presente nos Serões e que remete a uma visão de ciência diferente da apresentada nos trechos anteriores é aquele em que Dona Benta dialoga com Pedrinho sobre a verdade científica. Nele, Dona Benta, de certa forma, questiona a existência de uma verdade científica absoluta, adicionando à ciência uma pitada do sal da dúvida:

- E amanhã, como será, vovó?

- Não sei, meu filho. A ciência não pára de estudar e de remendar o que chamamos Verdade Científica. Antigamente a verdade era a existência de quatro elementos. A verdade de hoje é a existência de 103. A verdade do futuro talvez seja a existência dum elemento só. Mas como não vivemos no passado nem no futuro, e sim no presente, só nos interessa a verdadezinha de hoje – embora a admitamos cum grano salis, como dizem os filósofos.

- Com um grão de sal, vovó? Que história é essa de verdade salgada?

- Quando a gente acredita numa coisa, mas não acredita 'bem, bem, bem', como diz a Emília, é que estamos botando na nossa crença um grãozinho de sal.

- Mas que sal, vovó? De cozinha?

- Não, meu filho. Um grãozinho do sal da dúvida. Um dia, quando você chegar à minha idade, saberá o que é o sal da dúvida. (LOBATO, 1973, p. 34, grifos do autor)

Apesar de Dona Benta ter afirmado, no início do capítulo Comichões científicas, que a ciência deve estar associada à melhoria da vida do homem, de certa forma, neste trecho, ela reconhece que a ciência não é utilizada somente para o bem.

Vale salientar, entretanto, que, no trecho acima, apesar de Dona Benta reconhecer que o conhecimento gerado pela ciência não leva necessariamente à melhoria da vida do homem, ela dicotomiza os homens em bons e maus e separa, de certa forma, a ciência de suas consequências sociais, como se as invenções, por si só, não estivessem vinculadas a interesses e outros aspectos de natureza política, econômica etc.

As concepções de ciência consideradas inadequadas, segundo os estudos sobre a Natureza da Ciência, também estão associadas ao conhecimento do senso comum e são fortemente influenciadas pelas mídias. São concepções difíceis de serem alteradas, sobretudo, por intermédio de uma única intervenção. Neste sentido, o professor precisa ser capaz de reconhecer as visões inadequadas de ciência presentes nos materiais didáticos que utiliza em sala de aula, e fazer desse tipo de abordagem uma prática constante ao longo das suas aulas.

 

 

 

 

 

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