OS
LIMITES DO ILUMINISMO - 8º ano
Como você pôde perceber, o iluminismo foi tão
revolucionário como restrito. A liberdade e a emancipação racional não eram
para todos. Grandes partes dos iluministas não consideravam as mulheres como
seres iguais aos homens, dotados de razão na mesma medida. Muitos defendiam que
sua utilidade era servir aos homens, tornar o mundo dos homens mais belo.
Claro que existiram mulheres que lutavam
contra esse desprezo. Muitas foram perseguidas, aprisionadas e até condenadas à
morte. Um dos maiores exemplos é o da inglesa Mary Wollstonecraft, que viveu
uma vida de escritora e repórter bastante movimentada, diferentemente da
maioria de suas contemporâneas.
Seu legado foi esquecido por muito tempo,
já que seu biógrafo não deu a devida importância para suas ideias, e sim para
sua vida pessoal conturbada. A pensadora criticou o Antigo Regime e a educação
provida às mulheres de seu tempo, apenas utilitária, sem qualidade filosófica.
Sua filha também foi uma escritora notadamente famosa, Mary Shelley, que
escreveu a história de Dr. Frankenstein.
Reivindicação dos direitos da mulher
A maior parte da civilização dos povos
europeus é bastante parcial; mais que isso, é possível questionar se eles adquiriram
alguma virtude em troca de sua inocência, se essa virtude é equivalente à
miséria provocada pelos vícios que embriagam sua vil ignorância ou à liberdade
que eles trocaram por uma grande escravidão.
O desejo por deslumbrantes riquezas (o
mais certo predomínio que o homem pode obter), o prazer de comandar os mais
lisonjeiros bajuladores e muitas outras formas complicadas de idolatrar o
narcisismo, tudo isso contribuiu para soterrar a massa da humanidade e
transformar a liberdade em um instrumento conveniente para o falso
patriotismo.
[...] O que, além de um vapor pestilento, pode
pairar sobre a sociedade quando seu dirigente só é instruído na invenção de
crimes, ou na rotina estúpida de cerimônias infantis? Será que os homens nunca
serão sábios? Será que nunca cessarão de esperar milho de joio, e figos dos
abrolhos [uma erva daninha comum na Europa]?
[papel da mulher] […] a linha de subordinação nos poderes
mentais nunca deve ser ultrapassada. A parte da racionalidade concedida à
mulher, só "absoluta em beleza", é realmente muito escassa;
negando-lhe gênio e julgamento, é quase impossível predizer o que resta para
caracterizar intelecto. Para este erro,
homens têm, provavelmente, sido levados a ver a educação sob uma falsa luz; não
a considerando como o primeiro passo para formar um ser avançando gradualmente
em direção à perfeição, mas somente como uma preparação para a vida. Neste erro
de significado, pois devo chamá-lo assim, um falso sistema de costumes
femininos foi criado, que rouba a dignidade ao sexo, e ensina-as a ser apenas
adornos na vida dos homens.
Esta sempre foi a língua dos homens, e o
medo de sair de um papel supostamente sexual fez com que mesmo as mulheres de
sentidos superiores adotassem os mesmos sentimentos. Assim, a compreensão foi
negada à mulher; e o instinto, sublimado em inteligência e astúcia, para os
fins da vida, a substituiu.
Lamento que as mulheres sejam
sistematicamente degradadas por receber as atenções triviais, [...] quando, na
verdade, os homens estão apoiando de maneira rude sua própria superioridade.
Não é condescendência se curvar a inferiores. Tão absurdo, de fato, que essas
cerimônias me parecem, que eu mal sou capaz de governar os meus músculos,
quando vejo um homem começar, com ansioso e sério empenho, a levantar um lenço,
ou fechar uma porta, quando a senhora poderia ter feito isso sozinha, tinha ela
só dado um ou dois passos.
[…] Mulheres, comumente chamadas de
Senhoras, não são contrariadas, não estão autorizadas a exercer qualquer força
manual; e delas só se esperam as virtudes negativas, incompatíveis com qualquer
esforço vigoroso do intelecto, ao invés de virtudes positivas: paciência,
docilidade, bom humor e flexibilidade.
[...] Na idade adulta, para continuar a
comparação, os homens são preparados para as profissões, e casamento não é
considerado como o grande recurso em suas vidas; enquanto as mulheres, ao
contrário, não têm nenhum outro pano de fundo para aguçar suas mentes.
Estou plenamente convencida de que tais
características infantis desapareceriam, se as meninas fossem autorizadas a
fazer exercício suficiente, e não ficassem confinadas em quartos até que seus
músculos estivessem relaxados, e os seus poderes de digestão destruídos.
Para continuar a observação, se o medo
em meninas, em vez de ser acarinhado, fosse tratado da mesma maneira como
covardia em meninos, veríamos rapidamente as mulheres com aspectos mais dignos.
É verdade, elas não poderiam, em seguida, ser chamadas de flores doces que
sorriem na caminhada do homem; mas seriam membros mais respeitáveis da
sociedade, e desempenhariam as funções importantes da vida à luz de sua própria
razão.
"Eduque as mulheres como os
homens", diz Rousseau, "e quanto mais se assemelharem a nosso sexo,
menos poder elas vão ter sobre nós." Este é exatamente o ponto a que quero
chegar. Eu não desejo que elas tenham poder sobre os homens; mas sobre si
mesmas.
Mary
Wollstonecraft. A Vindication of the Rights of Woman. Boston: Peter Edes, 1792.
(Tradução dos autores). Disponível em: <http://www.bartleby.com/144/>.
Acesso em: 17 nov. 2016.
HORA
DO DESAFIO
1. Escreva,
em seu caderno, um parágrafo sobre suas interpretações pessoais sobre os
limites do Iluminismo.
2. Faça
um paralelo sobre os a Reivindicação dos direitos da mulher e a atual
participação da mulher na sociedade. Existe influencias desse movimento nas
conquistas das mulheres contemporâneas? Esclareça.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MARCONI, Cassia. Projeto Presente.
Volume 1,2,3 e 4, 6ª edição, Editora Moderna, São Paulo, 2013. BRAICK,
Patrícia. História - Das cavernas ao 3° milênio, Volume 1, 9ª edição, Editora
Moderna, São Paulo, 2013. BOULOS, Júnior. História. Sociedade e Cidadania
Volume 1, Editora FTD, São Paulo, 2013. Panazzo, Silvia. História. Jornada.
Editora Saraiva, São Paulo, 2013.
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